parágrafo sobre "finalística, causalística e programática"
Finalística: imagem predestinada, originada nas tradições religiosas e herança mítica, noção de existência e mundo regidos pelo destino. Projeta uma imagem segundo a qual a existência humana está sujeita a um propósito que demanda meta. O problema central é o da liberdade humana, pois o homem não pode se opor sua livre vontade ao destino, já que está sempre sobre influência do mesmo. A imagem finalística é política e tem coloração ética. Para o pensamento finalístico não há acaso: o que parece ser acaso é na realidade um propósito ainda não desencoberto. A fim de conferir-lhes significados.
Causalística: associada ao pensamento científico, noção de existência e de um mundo regidos pela causalidade. Todo evento é efeito de determinadas causas, e causa determinados efeitos. A existência está inserida em um tecido complexo de cadeias causais. Vê um elo entre os acontecimentos. Reflexos a causas externas e internas. Visão a-política, tem coloração a-ética, mecanicista e determinista. Exclui a possibilidade da liberdade, criando um noção "subjetiva" desta: é possível agir-se como se a ação fosse livre, embora seja "objetivamente" determinada. Para o pensamento causalístico não existe acaso: o que parece ser acaso é na realidade causa ainda não descoberta. A fim de ordená-los.
Programática: o que caracteriza programas é o fato que são sistemas nos quais o acaso vira necessidade. Surgem necessariamente ao longo do desenvolvimento do programa, mas surgem ao acaso em determinado momento. Embora sejam necessárias, tais realizações ao longo do jogo, surgem ao acaso: esse é o conceito fundamental da visão programática. Para o pensamento programático, o que parece ser propósito, e o que parece ser causa, são na realidade ingenuamente interpretados. A visão programática revela o pensamento finalístico enquanto ideologia antropomorfizante, e o pensamento causalístico enquanto ideologia objetificante. "Imperialista": não admite outra visão a seu lado.
Embora a visão programática esteja atualmente se impondo por toda parte, e sendo incorporada tanto pelas ciências da natureza quanto as da arte, frente ao mediato fracasso dos pensamentos finalistas e causais, ela tem sua natureza revelada no campo da política. Se o comportamento da sociedade vai sendo vivenciado e interpretado enquanto absurdamente programado por programas sem propósito nem causa, o problema da liberdade, que é o problema da política, passa a ser inconcebível. A visão programática acaba com a política, com a história portanto. Antes do pensamento programático, era possível viver-se simultaneamente com a visão finalística e a causalística; era possível aplicar a visão causalística à natureza, e a finalística à cultura. As duas estruturas podiam ser sobrepostas uma à outra. Contudo, o mesmo não ocorre com a visão programática por esta ter dimensões múltiplas, ou seja, a linearidade final e causal não passam de duas das dimensões do pensamento programático.